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Crime contra o
patrimônio histórico de Rolândia pode parar na promotoria pública
Semana passada a reportagem do jornal Manchete do Povo
acompanhou o vereador José de Paula até o local onde está armazenada parte das
madeiras que restaram do Hotel Rolândia. O marco zero da cidade que foi
demolido em 2010. Na época a família proprietária do hotel informou ter
procurado a prefeitura que alegou não ter recursos disponíveis para comprar o
local. Após grande pressão popular a administração comprou parte da fachada
original do Hotel com a promessa de reconstruí-lo no Centro Histórico. Obra que
está sendo realizada na antiga estação de trens de Rolândia.
Na última tentativa de fotografar as madeiras a prefeitura
encaminhou resposta informando que "o Jurídico não quer divulgação de
fotos, que podem ser usadas de maneira errônea".
Após ter acesso ao local com a presença do vereador Zé de
Paula e fotografar as madeiras esta reportagem foi até o centro de história na
Universidade Estadual de Londrina e falou com o Dr. em história Marco António
Neves Soares. Ele é coordenador do Centro de Documentação e Pesquisa Histórica
da UEL e há 11 anos pesquisa a história de Rolândia.
Descaso
Marco começa salientando que o Hotel Rolândia não dizia respeito
apenas à história de Rolândia, mas à história da ocupação do Paraná como um
todo. Historicamente Rolândia já deveria ter pensado há muito tempo em
políticas de preservação do hotel e de outros locais de grande importância
histórica para a cidade e o estado. Referente ao Hotel Rolândia o Dr. Marcos
fala que o poder público foi inepto e não tomou nenhuma iniciativa para
garantir a preservação do marco zero de Rolândia.
Dr. em História afirma que houve um crime contra a memória. "O Hotel Rolândia foi demolido e não desmontado"
Diante das fotos e das informações o Dr. em História Marco
Antônio Neves Soares afirma categoricamente que o hotel não foi desmontado de
forma correta, mas demolido e destruído, "Temos a fachada do Hotel? Eu
duvido!" questiona. "A desmontagem da edificação não obedeceu nenhum
critério técnico", garante.
Marcos explica que o processo de desmontagem deveria começar
com a avaliação do telhado e então retirado o mesmo. Feito isso deveria ter
numerado as taboas e cada peça do hotel que seria retirada de forma cuidadosa e
com critérios técnicos. Após isto feito as tábuas e peças seriam armazenadas em
conjuntos que seriam embalados separadamente. Somente assim as madeiras
estariam protegidas da ação do tempo e poderiam ser transportadas e armazenadas
para posteriormente serem novamente montadas em outro local. "Está claro
que não foi feito a desmontagem com ciência e técnica e isso certamente
inviabilizou a remontagem do hotel" informa.
Quem deveria ter
feito este trabalho?
Ainda segundo Marcos existem diversas pessoas capacitadas
para a realização do trabalho de desmonte que certamente nunca poderia ter sido
feito por um marceneiro
Marcos conta que na UEL existem pessoas capacitadas que
poderiam ter dado toda a assessoria necessária para a realização deste
trabalho, porém a prefeitura nunca procurou a Universidade. Na questão
patrimonial a UEL e outras universidades como a UNIFIL poderiam dar suporte técnico
científico ao município de Rolândia.
É possível salvar o que restou?
Feita esta pergunta o Dr. em história com vasta experiência
foi categórico, "Eu acredito que não. O que dá para fazer é um simulacro
com o que restou para fingir que reconstruímos a fachada do Hotel
Rolândia" afirma.
Quais são as conseqüências do crime?
Os bens patrimoniais são garantidos pela constituição
brasileira. Em nenhum momento na cidade de Rolândia com relação ao seu marco
zero, o Hotel Rolândia, a lei foi respeitada, "A prefeitura não respeitou
a lei, o ministério público ao observar também ficou quieto, e todas as
instituições que garantiriam do ponto de vista legal a manutenção de um patrimônio
histórico e de uma memória não agiram de forma legal" lamenta.
O hotel era um patrimônio privado além de ser um patrimônio histórico
O hotel pertencia a uma família que precisava vender o
local, porém Marcos explica que a prefeitura tinha todos os meios legais para
resolver este problema. "Teria as vias legais de desapropriação e
indenização tudo justificado pela constituição e também através das cartas patrimoniais
Brasileiras. A prefeitura estaria assegurada pelo ponto de vista legal se
tivesse através da justiça adquirido o hotel", garante.
O ministério Público deve ser Procurado
Os restos do hotel devem ser armazenados de forma correta
para evitar que maiores danos aconteçam. "Deveríamos procurar o Ministério
Público, basta fazer um dossiê relatando a importância histórica do Hotel, como
foi feita a sua demolição e as condições em que estão sendo armazenados os seus
restos". Isto feito qualquer cidadão ou o próprio ministério público pode
entrar com uma ação contra a prefeitura alegando desvio de conduta.
O que se deve fazer para evitar que outros crimes aconteçam?
"Juntamente com a comunidade identificar outros pontos
de importância histórica para a cidade e juntamente com as autoridades do
município estabelecer políticas de proteção do patrimônio histórico para evitar
que aconteça o que aconteceu com o Hotel Rolândia. O erro que aconteceu é
irremediável" finaliza Dr. Marco António Neves Soares.
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